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SÉRIE CONTOS DO UBER: Isabele a Pseudo Frígida
 

Era inverno estava em Curitiba a trabalho, sou de São Paulo, Capital e tenho uma consultoria bem agitada.

 Já de pé e maquiada com minha pasta de trabalho e meu inseparável notebook, antes das 07h da manhã. Peço um Uber, um minuto de espera e o Ford Ka vermelho surge com uma mocinha ao volante.
 

Bom dia! Ela com o cabelo todo maranhado, mas delicadamente preso, sem maquiagem e um copo de café desses térmicos na mão e a outra ao volante.
 

O que me chamou a atenção foi que Isabelle, se parecia muito com minha sobrinha que acabara de se casar aos 23 anos, além de terem o mesmo nome e mesma idade o que seria uma feliz coincidência se não fosse o fato da Uber Isabelle ter acabado de se separar após 3 anos de casamento.

mulher branca de cabelos castanhos dirigindo um carro com expressão de preocupação
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Mão de pessoa preta segurando diversos vibradores e briquedos eróticos em fundo rosa

Eu, me casei aos 30 anos de idade, achava um absurdo um casamento aos 23, quem dirá uma separação.

Sempre foi de costume que desconhecidos compartilhassem segredos íntimos comigo, apesar de achar engraçado as vezes até acredito que esse seja meu dom, tipo um super poder!
 

A história não parou aí, lamentei demais pois sei a quão sofrida e dolorosa é qualquer separação e era nítido que Isabelle ainda estava abalada, mesmo assim não demorei em perguntar o motivo que levou o casal se separar.
 

A resposta veio seca e ressentida que me pegou de surpresa.... nos separamos porque sou frígida!

Arregalei os olhos e disse, como assim? Quem te disse isso?
 

Meu ex marido... Eu não o fazia feliz no sexo...
 

Mas com base em que ele te sentenciou dessa forma?


Ela um pouco constrangida respondeu que ele não gozava comigo e não me procurava muito por conta disso.
 

A corrida era rápida, acho que esse fato facilitou muito nossa comunicação. Isabele, não passou por sua cabeça o fato dele não ter tanta experiência com sexo? Que idade ele tem? Ele tem a mesma idade que eu, só que ele já tinha tido outra experiência sexual, enquanto ele foi meu primeiro e único.


Talvez ele não conheça tanto o seu corpo a ponto te de proporcionar prazer que reflita no dele. Você conhece seus pontos mais sensíveis? Já se tocou?

 

Agora, totalmente constrangida Isabelle me disse que nunca tinha tocado seu corpo por conta da sua criação em berço evangélico. Com muita cautela, disse que isso era tão natural que não abalaria sua crença e seria importante entender o que acontecia em seu próprio corpo, aliás, seria saudável.


Sem perder tempo, procurei alguns tipos de vibradores no Google, mostrei pra ela e expliquei que ela a princípio não precisaria usar o dedo e também não precisaria de um vibrador com penetração.
 

Em geral, os vibradores que eu acho mais interessantes são os bullets (aqueles pequenos com controle de velocidade).


Expliquei para Isabelle que não precisamos de penetração para sentirmos prazer no sexo e chegarmos ao orgasmo (Detalhe, ela nunca tinha tido um) basta se permitir ir aos poucos conhecendo seu corpo e entendendo o que te dá (ou não)  prazer.  O corpo vai reagir de formas diferentes a diferentes estímulos e você pode encontrar o prazer. Não espere atingir o orgasmo de primeira e não se sinta ansiosa para isso, porque ao conhecer o seu corpo, o orgasmo virá de forma natural e no seu tempo.


Nessa altura, Isabelle já estava bastante interessada e disse que ia tentar.

Trocamos telefone, e encaminhei por WhatsApp a minha pesquisa de vibradores e a partir daí, iniciamos uma amizade que já dura um certo tempo.


Após alguns dias, Isabelle me mandou uma foto com a legenda “Meu brinquedo chegou” rsrsrs

Isabelle hoje mora na Europa, está feliz e teve outras experiências sexuais e definitivamente, não há nada de errado com sua libido.


Teve outras experiências sexuais, se sentiu segura em cada uma delas, inclusive se sente à vontade para expressar seus desejos com seus parceiros. (Sim, mais de um agora!)


Penso naquela corrida e que existem muitas garotas como a Isabelle, machucadas por pessoas que não tem a menor noção do que estão fazendo.


Garotas presas em paradigmas de uma sociedade machista onde masturbação é coisa de meninos ou sufocadas por religiões castradoras onde sexo com prazer é pecado.


Não sou nenhuma expert em sexualidade humana, mas, minhas curiosidades e desejos já me levaram a lugares
intensos e sou ativamente sexual desde.... sempre rsrsrs


Infelizmente como mulheres, não temos muitos espaços seguros para falar sobre o prazer sexual feminino, mas.... isso é história para outros textos.


Me sinto feliz por nossas vidas, minha e da Isabelle terem se cruzado, nessa corrida de tantas para mim e para ela e de alguma forma, ter levado acolhimento a quem precisava.

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Sobre a autora:

Seissa Sá

Uma mulher que já foi uma menina cheia de inseguranças, ainda as tenho, hoje muito menos.

Uma entusiasta pelo comportamento humano com o sonho levar acolhimento a mulheres de “todos os tipos” e muita vontade de compartilhar experiências que trazem liberdade e afetividade, estreitar laços, já que esse é meu dom que me orgulha muito. Ora intensa, ora insana, mas sempre encarando de frente, mesmo que doa, meus demoninhos.


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